Os Golfinhos do Sado

Roaz-Corvineiro (Tursiops truncatus). Ilustração de NOAA Fisheries .
Evolução e Anatomia
Medidas e Comportamentos
da População do Sado
Artigos científicos e outros
Golfinhos do Sado
Biologia
Tursiops Truncatus
Nome comum: roaz corvineiro
Nome científico: Tursiops truncatus
O nome Roaz vem do hábito de roerem as redes dos pescadores com o propósito de lhes roubarem o peixe. Corvineiro porque a corvina é uma das presas preferidas destes golfinhos.
Distinguem-se das outras espécies de golfinhos por terem uma cor mais escura (cizento escuro) no dorso e por serem animais de grande porte. Podem pesar até 600 kg e atingir os 4 metros de comprimentos, têm no geral uma cabeça e corpo robustos.
Comunicação | Orientação
Os golfinhos são especialistas acústicos. O modo como interagem entre si e com o meio ambiente depende do seu sistema sensorial.
É através da mandíbula inferior que recebem o som, pois os ouvidos externos não são funcionais. Utilizam a Ecolocalização para detectarem a sua posição e /ou a distância entre objectos e outros animais (por exemplo, cardumes de peixe). Fazem-no atráves da emissão de ondas ultrassônicas, que reflectem no alvo e voltam novamente ao golfinho sob a forma de ECO.
Comunicam através de assobios, estalidos ou outros sons pulsados (clique no reproductor para ouvir).

Simpatia em golfinho
São animais bastante sociáveis e ocorrem quase sempre em grupo. Conseguem associar-se facilmente a outros cetáceos, é usual vê-los a socializar com outros roazes costeiros.
São bastante activos à superfície e por isso é normal assistirmos a saltos e movimentos acrobáticos diversos. São animais bastante curiosos, o que faz com que se aproximem das embarcações e por vezes as acompanhem, quase como se de uma corrida se tratasse.
Os golfinhos do Sado têm 4 padrões de actividade distintos: Deslocação, Alimentação, Socialização e Repouso.
- A deslocação é o padrão de actividade que observamos com maior frequência. Caracteriza-se por emergirem num só grupo e apenas num sentido de deslocação, com submersões geralmente de curta duração.
- A alimentação, talvez o segundo padrão mais frequente, caracteriza-se por observar movimentos rápidos e erráticos à superfície, notando-se por vezes a cooperação de caça entre os golfinhos.
- Na socialização é habitual observar-se comportamentos de interacção entre eles, saltos sincronizados e contacto físico, normalmente em grupos de pequenas dimensões, 2 ou 3 indivíduos.
- Quando se notam movimentos mais lentos ou nulos à superfície, num grupo coeso e com uma direcção constante, os golfinhos estão em repouso.
em 2017 nasceram 3 golfinhos
Entre os 8 e os 12 anos os golfinhos atingem a maturidade sexual e estão prontos para acasalar. O período de gestação dura 12 meses, onde apenas nasce uma única cria.
Todos os esforços são feitos para garantir a sobrevivência da cria e o seu crescimento, assim a dependência da mãe pode durar entre 2 a 6 anos o que implica intervalos entre gestação de 2 a 4 anos em média.
O que vem à rede é peixe!!
São considerados oportunistas e generalistas, ou seja, têm a capacidade de adaptar a sua dieta à disponibilidade de presas. No estuário do Sado é comum observá-los a alimentarem-se de tainhas, robalos, chocos, polvos, crustáceos, entre outros.
Alimentam-se em grupo, cooperando uns com os outros. Têm o hábito de “caçar” em locais menos profundos, perseguindo o peixe até aos bancos de areia, com movimentos rápidos à superfície. É frequente observar indivíduos a arremessar presas pelo ar.
Uma das razões porque escolheram o estuário do Sado para viver foi pela sua biodiversidade e abundância de presas.
Golfinhos do Sado
Conservação
“O mar, assim que lança o seu feitiço, prende-nos para sempre na sua rede de encantos.”
Apesar da espécie Roaz-Corvineiro ser classificada com o estatuto de “Pouco Preocupante” em Portugal, a população residente do estuário do Sado é considerada frágil, devido ao baixo número de indivíduos, aos problemas de consanguinidade, e aos factores intrínsecos da espécie como por exemplo reprodução lenta.
Trata-se da única população residente em Portugal e das poucas existentes na Europa e por isso bastante protegida, os estudos feitos até agora têm como preocupação a sua conservação, conhecer para proteger.
A sua observação está protegida pelo código de conduta e o seu cumprimento é imperativo.
"O mar, é o grande unificador, é a única esperança do homem."
O Roaz-Corvineiro é classificado em Portugal com o estatuto de ameaça “Pouco Preocupante” (UICN, 2003).
Está também protegido por legislação internacional, comunitária e nacional:
- Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES);
- Convenção relativa à Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais (Convenção de Berna);
- Acordo sobre a Conservação de Cetáceos no Mar Negro, Mar Mediterrâneo e Zona Atlântica adjacente (Acordo ACCOBAMS);
- Diretiva Habitats (transposta para a ordem jurídica interna através do Decreto-Lei nº 140/99, de 24 de abril, com nova redação dada pelo Decreto-Lei nº 49/2005, de 24 de fevereiro);
- Decreto-Lei nº 263/81, de 3 de setembro – confere proteção de todas as espécies de mamíferos marinhos na ZEE portuguesa;
- Decreto-Lei nº 9/2006, de 6 de janeiro – regulamenta a atividade de observação de cetáceos nas águas de Portugal Continental.
“Um país, uma civilização, pode ser julgada pela forma com que trata seus animais.”
O plano de acção para a salvaguarda e monitorização da População residente de Roazes do estuário do Sado tem como objectivo definir um conjunto de estratégias para a conservação e protecção da população de Roazes.
Neste sentido a Reserva Natural do Estuário do Sado (RNES) realizou, a partir de Maio de 2008, um conjunto de reuniões com alguns parceiros para definir as bases deste plano. Esta acção está publicada em Anexo no Despacho nº21997/2009.DR. nº192, Série II, de 2 de Outubro.
Um dos projectos desenvolvidos neste plano foi o “Projecto Roazes do Sado”, que tem como objectivo a sensibilização dos navegadores antes e durante a observação dos golfinhos no Sado.
Golfinhos do Sado
História
Primeiro Registo Histórico
José Vicente Barbosa du Bocage descreve pela primeira vez a existência de Golfinhos no Estuário do Sado.
Primeiros Trabalhos Cientifícos
Os primeiros estudos científicos sobre os golfinhos do Sado começaram em 1980 com os trabalhos de Teixeira & Duguy (1981), dos Santos (1985) e dos Santos & Lacerda (1987).
Em 1981 é publicado em decreto de lei o primeiro Regulamento de Protecção dos Mamíferos Marinhos na costa Portuguesa.
"Asa" - o Golfinho que Voou
População atinge o menor número de indivíduos
Em 2005 a população de Roazes do Sado contava apenas com 22 golfinhos. Contudo podemos considerar este ano como ano de mudança, pois a partir desta data a população aumenta e a taxa de mortalidade das crias diminui.
Desde 2005 nasceram 17 golfinhos e apenas 4 não se encontram na população, actualmente.
Início do Projecto de Sensibilização
A partir de 2015 foi posto em prática o projecto ” Roazes do Sado” promovido pela Tróia-Natura em parceria com o ICNF, com o objectivo de sensibilizar os navegadores para os comportamentos e atitudes que devem adoptar na presença dos golfinhos.
Durante os meses de verão é comum observar a equipa de sensibilizadores no mar.
Cerca de 30 Golfinhos
ordenado cronologicamente
Bibliografia
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Underwater vocalization of bottlenose dolphins in the region of the Sado estuary: acoustic features and occurence patterns
Alves, I.S.C. 2017. Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 38 pp.
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Estudo da utilização espácio-temporal do estuário do Sado pela população residente de roazes (Tursiops truncatus), com recurso a um método goniométrico.
Costa, M. 2017. Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 60 pp.
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A Quantitative Analysis of Pulsed Signals Emitted by Wild Bottlenose Dolphins
Luís, A. R., Couchinho, M. N., & Dos Santos, M. E. (2016). PloS one, 11(7), e0157781. doi:10.1371/journal.pone.0157781
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Avaliação de potenciais impactos da actividade da pesca na população de roazes do Estuário do Sado
Ferreira, P.A.C., 2012.Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 39 pp.
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Residency and behavioural patterns of coastal bottlenose dolphins (Tursiops truncatus) in the Arrábida and Tróia shores (Portugal)
Martinho, F.O.M.M., 2012. Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 80 pp.
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Vocalizações dos golfinhos-razes (Tursiops truncatus) residentes na região do estuário do sado e estudo da influência do tráfego marítimo nos padrões de emissão dos assobios
Rocha, A.I.L. 2012. Dissertação de Mestrado em Ciências do Mar – Recursos Marinhos, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto. 97 pp.
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The environmental history of cetaceans in Portugal: ten centuries of whale and dolphin records.
Brito, C., & Sousa, A. 2011. PLoS ONE 6(9): e23951. doi:10.1371/journal.pone.0023951
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Movimentos e atividades dos golfinhos-roazes (Tursiops truncatus) na zona terminal do estuário do Sado e possíveis influências ecológicas.
Ferreira, M.C.V. 2010. Mestrado em Ecologia Marinha. Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, Departamento de Biologia Animal, Lisboa. 56 pp.
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Estudo da utilização do território pela população de roazes (Tursiops truncatus) do estuário do Sado a partir de dados obtidos em embarcações de Dolphin Watch.
Grilo, S.I.B.E., 2010. Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 86 pp.
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Bases para o plano de ação para a salvaguarda e monitorização da população de roazes do estuário do Sado.
Sequeira, M.; Matias S., Farinha J.C., Gaspar R., Silva C., Augusto J., Ferreira C., Fonseca M.J., Narra P. e Luís, A.R. 2009. Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade: 80 pp.
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Avaliação do impacto de construções portuárias no comportamento e no ambiente acústico da população de golfinhos-roazes (Tursiops truncatus) do estuário do Sado.
Luís, A.R.F. 2008. Mestrado em Ecologia e Gestão Ambiental. Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, Departamento de Biologia Animal, Lisboa. 110 pp.
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A população residente de Tursiops truncatus num quadro de gestão integrada do estuário do Sado: Proposta de um acordo voluntário.
Silva, C. 2008. Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 114 pp.
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Análise da estrutura social, da composição dos grupos e associações nos golfinhos-roazes (Tursiops truncatus) residentes na região do Sado.
Augusto, J.F.F. 2007. Mestrado em Ecologia Marinha. Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, Departamento de Biologia Animal, Lisboa. 65 pp.